sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Santana Raptor Placidus

Tesouro nacional

Museu do Rio exibe dinossauro que viveu há 110 milhões de anos

Leticia Helena

Uma cearense de 1,68cm de comprimento, 80cm de altura e 110 milhões de anos de idade promete revolucionar a paleontologia brasileira: batizada de Senhorita AL, é o primeiro exemplar da espécie Santanaraptor placidus, um ancestral do Tiranossauro Rex. A construção da réplica do animal foi possível graças a um fenômeno raríssimo no universo dos fósseis. Além dos ossos, pedaços de músculo e pele também ficaram petrificados. AL foi apresentada ao mundo na quinta-feira 27, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Numa brincadeira de laboratório, decidiu-se que o bicho seria uma fêmea.
Aos olhos dos leigos, é uma mistura de lagarto com galinha. Para os cientistas, pode representar a primeira pegada para a criação de um parque dos dinossauros. “Já temos condições técnicas para reproduzir animais de grande porte”, diz o paleontologista Alexander Kellner, um liechtensteiniense naturalizado brasileiro que coordenou a expedição que encontrou AL na Chapada do Araripe, no Ceará. A partir desta semana, estarão em exposição o fóssil da Santanaraptor e o esqueleto e o modelo feitos de resina.

Segredo – O fóssil de AL foi encontrado em 1991 e a presença de tecidos moles petrificados deixou os cientistas estupefatos. Através deles era possível recriar o couro, os músculos e os vasos sanguíneos do animal. “Encontramos a região posterior. O fóssil não tinha crânio, mas quando identificamos seu parentesco, conseguimos reconstruir a cabeça”, observa Kellner. A descoberta ficou guardada a sete chaves até os cientistas conseguirem patrocínio de R$ 7 mil para a reconstituição, pagos pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, Faperj. “Pela primeira vez, reproduzimos um dinossauro brasileiro com base em tecido mole fossilizado. No mundo, ainda não existem registros de réplicas produzidas a partir de músculos petrificados”, afirma o paleontologista.
A escolha do nome Santanaraptor placidus é uma tripla homenagem. Junta o nome da cidade onde o fóssil foi achado (Santana do Cariri), a atividade predatória do animal (um raptor, ou caçador) e um tributo ao professor Plácido Cidade Nuvens, vice-reitor da Universidade Regional do Cariri, um dos defensores do sítio arqueológico da Chapada do Araripe. Quando AL e seus parentes viviam na região, a chapada cearense era um ambiente árido, com vegetação rasteira e lagunas. “A espécie provavelmente se alimentava de pequenos animais e das carcaças de outros dinossauros”, conta Kellner. “A AL é o ancestral mais próximo do Tiranossauro já encontrado na América Latina.”

Na prática, a estrela pré-histórica pode representar um empurrão para os cientistas do Museu Nacional reconstruírem outros animais. Dois candidatos, de 80 milhões de anos, lideram a fila: um teropode, dinossauro carnívoro que alcançava sete metros e viveu no Mato Grosso, e um sauropode, animal herbívoro que chegava aos 12 metros de comprimento e habitava a região onde hoje fica São Paulo.

sábado, 8 de outubro de 2011

ROMARIA DE BENIGNA 2011 SANTANA DO CARIRI - CE - É DESTAQUE NA MÍDIA!

Ceará poderá ter a primeira beata do Nordeste

Publicado em 9 de outubro de 2011

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Imagem pintada da mártir Benigna, que se encontra no local onde estão os ex-votos

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Local onde ficam os ex-votos dentro do santuário. Os objetos são levados por aqueles que acreditam ter recebido uma graça

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Imagem da mártir Benigna, fiéis da comunidade rezando no santuário. A comunidade está esperançosa quanto ao encaminhamento do processo de beatificação

Benigna Cardoso da Silva foi assassinada aos 13 anos. Agora, diversas pessoas dizem que ela tem o poder de realizar milagres. Por isso, movimento para beatificação da jovem é iniciado no Cariri, com apoio da Igreja Católica. Menina atrai romaria que começa a se tornar importante na região

Santana do Cariri. Uma menina mártir que se tornou santa para pessoas de uma pequena comunidade de Santana do Cariri. São quase 70 anos de morte de Benigna Cardoso da Silva. Aos 13 anos, foi assassinada por um adolescente no Sítio Oitis, onde morava. Ele se apaixonou pela pequena, que nada queria com ele. Revoltado pela rejeição, desferiu vários golpes de facão e matou a menina franzina, que não teve defesa, tamanha era a sanha do garoto que a perseguia. Benigna tinha ido buscar água na cacimba, como fazia todo fim de tarde. Desde o dia do trágico acontecimento, que os moradores da localidade começaram a alcançar graças e até milagres em nome da jovem martirizada. Tanto que a agora, com apoio da Igreja Católica, é iniciado um movimento em prol da beatificação de Benigna. Ela poderá ser a primeira a ser beatificada no Estado do Ceará.

No próximo dia 24, na passagem dos 70 anos de morte da mártir Benigna, será realizada a 8ª romaria ao local, onde hoje está construído o santuário em seu nome, a 200 metros de onde a adolescente foi assassinada, no Sítio Oitis, no Distrito de Inhumas. A comunidade se mobiliza para o momento, já que no dia estão previstas novidades sobre o processo em andamento. O monsenhor italiano, Vitliano Mattioli, designado pelo bispo dom Fernando Panico, está responsável pelo encaminhamento dos documentos relacionados ao processo. A comunidade se empenhou em prestar esclarecimentos sobre graças alcançadas e resgatar todo o passado da menina, seu comportamento na infância. Para os moradores, ela morreu na defesa da castidade, resistindo ao assédio do seu algoz. Por isso, uma virgem mártir da pureza.

Benigna ficou órfã de pai e mãe logo cedo. Ela nasceu em 15 de outubro de 1928, na localidade onde perdeu a vida. A menina de estatura média, morena clara, cabelos e olhos castanho escuros, rosto arredondado e queixo afinado, conforme Sandro Cidrão, um dos integrantes da comissão responsável pelos levantamentos históricos, tem hoje na sede do santuário apenas um retrato falado. O pote que ela carregava na hora do assassinato está envolto a uma redoma de vidro, com esculturas que retratam o momento em que era morta por Raul Alves, de 13 anos, que foi preso e cumpriu pena. Segundo levantamentos realizados por Sandro e as irmãs de Benigna, ela era uma menina de semblante triste, calma, simples e frágil. "Apesar de não ser bonita, sua simpatia a fazia estima por todos", diz ele.

Teresinha Alencar Nuvens e Irani Sisnando de Oliveira são as irmãs de criação de Benigna. Lembram com emoção dos momentos que passaram com a pequena e das brincadeiras de roda de infância. Elas descrevem a música preferida da menina, que nos fins de semana aguardava embaixo de uma árvore de "sombreão" a chegada das irmãs para brincar, com a boneca preferida nas mãos. Teresinha lembra que era sempre a mesma canção: "Carneirinho, carneirão, olhai pro céu, olhai pro chão...". Os versos entoados emocionam as irmãs. Segundo Teresinha, ali se perdeu a infância, que após a morte de Benigna não teve mais alegria.

Moradores da localidade lembram a vinda de Raul à lápide de Benigna, após a pena pelo assassinato. Segundo Fernando Silva, que cedeu o terreno para a construção coletiva do santuário, feito em pedra santana, com um espaço dedicado aos ex-votos dos fiéis de Benigna, antes da construção do espaço o assassino disse que estava arrependido pelo ato. Mesmo assim, as irmãs de Benigna não acreditam que isso tenha ocorrido por completo, mas o sentimento de vingança, que perdurou todos esses anos, no coração de Teresinha, se esvai com o reconhecimento da pureza da irmã.

Lembrança

Nas proximidades da casa abandonada do Sítio Oitis foi colocada uma cruz, local onde a menina caiu morta, na tarde do dia 24. Foi encontrada pelo irmão Sirineu, que estava nas proximidades mas não percebeu o acontecimento. Sandro descreve cada golpe do facão que ceifou a vida da mártir para estudantes de Juazeiro, que chegam ao santuário, constantemente visitado por romeiros e moradores das redondezas e Estados vizinhos. "Tomado de um espírito demoníaco, sacou de um facão e deu vários golpes. O primeiro tirou os três dedos da mão; o segundo, foi na testa; o terceiro nos rins, e, o quarto, o golpe de misericórdia, que praticamente degolou a menina".

O pároco de Santana do Cariri, padre Paulo Lemos, afirma que mesmo não sendo grande romaria, há sinais de devoção e manifestações espontâneas para a menina. O próprio bispo tem reconhecido essa devoção e convidado padres para apoiar e estimular a causa. Sobre a beatificação, diz que deve ser algo muito bem feito. O reconhecimento oficial já vem acontecendo, mas, segundo ele, quem beatifica é Deus, já que existe a manifestação espontânea.

PROVAS DE FÉ

Ex-votos simbolizam graças

No recanto do santuário, estão os ex-votos e várias fotografias de pessoas que fizeram promessas à mártir Benigna. Nesse espaço, uma foto de Sandro Cidrão, quando criança. Ele é um dos grandes devotos, que leva ao conhecimento da população, juntamente com os moradores da área, o drama vivido por Benigna. Sua mãe fez uma promessa para o menino que vivia doente ficar curado. Para ela, uma nova vida nasceu. E justo um dos frutos das graças alcançadas tem sido um dos principais agentes para descrever os milagres da menina. No relatório entregue ao padre responsável pelos documentos para encaminhar o processo de beatificação, estão descritos dez testemunhos de graças alcançadas.

Um dos milagres narrados por ele diz respeito ao filho de um agricultor da localidade de Brejo Grande, em Santana. Segundo Sandro, o pé da criança chegou a ficar infeccionado por um ano. "O pai recorreu à santa, e conseguiu identificar que havia um pedaço de pau dentro do pé do menino e ele ficou curado", afirma.

Sandro vê com positividade o encaminhamento do processo. Em setembro, documentos pessoais existentes de Benigna, como o batistério, vídeos sobre as romarias, depoimentos de milagres, foram levados para serem avaliados em Roma. A meta é verificar o que falta para complementar o encaminhamento do processo. Este mês será dado o relato sobre os próximos passos.

Penha Eleodório também faz parte da comissão central pró-Benigna. "Acreditei muito na menina Benigna. E posso dizer que a minha vida é uma graça", diz ela. O doador do terreno para construção da capela, Fernando Silva, estranhava a vinda das pessoas para visitar a cruz na beira da estrada. Ary Gomes, do Rio Grande do Norte, ao conhecer a história de Benigna, em 2004, se comoveu e decidiu celebrar uma missa no local no mesmo ano. A missa passou a ser uma romaria. Em mutirão comunitário, em 2005, foi erguido o santuário.

Fernando Silva acredita que a menina Benigna ainda vai ser santificada. Ele chegou a conhecê-la e diz que parece muito com o retrato falado que fica dentro do santuário. Aos 80 anos, lembra também de Raul, que a matou e muitos anos depois teve o encontro com ele, já arrependido do que havia feito.

A agricultora Maria de Melo, de 70 anos, mora na comunidade e diz que recorreu à menina Benigna a cura de um filho que tinha sido acidentado em São Paulo e quase perdeu a perna. Foi um drama que trouxe muito sofrimento para a família, e principalmente para ela, que estava em Santana distante do filho, que peregrinava por hospitais para não ter a perna amputada. Venceu a fé de Maria. "Tive muita fé em Benigna e fui valida. Ela é uma santa", acredita.

Elizângela santos
Repórter